sábado, 5 de septiembre de 2009

Diego Vinhas - Eu sou o banco de trás

eu sou o banco de trás, nossa
esfinge possível, e só você, o
acrobata, não me vê. amarrado a
este cinto, arrancando com vagar
o seu rosto triste, até ir embora,
só você, um abismo, não me vê.
(o dia como um caldo denso, e o
que pode haver de melhor? a
vida é um filme bonito, uma canção
de favor, mas agora enfrentarei
algum trânsito: a vida hostil
dos guardados, amor e assado de
panela, amor que dorme à maneira
de tarântulas alegres e verdes e
negras. c’mon baby, repita comigo:
nenhum coração está completo.
fiat lux, diga comigo, que todas as
coisas funcionem, riquixá, larvas,
esperanças enlatadas (as assombrosas
companhias) corpo-rocha, silêncio
lago (soma de morte e sabor), o
movimento ancestral dos barcos.
eu me satisfaço com a minha casa e
o deserto, temos uma canção em
comum, mas o mesmo ar que respiro
não é o seu. a lanterna lampeja
e falha. ao redor o mundo descolore.
o próximo passo pode ser o da
terra que desaba, afundar como
caranguejos, vê esta linha aqui?).
até você ir embora, vou deixar as duas
mãos no vidro, como se quisesse
chegar a algum lugar. entre os finais
do grande espetáculo, você não vê
minhas palavras vazando: como estou
dirigindo? ou: quem é mais acrobata?




(Diego Vinhas)


A versão de Diego Vinhas, poeta e amigo querido, me causou um engasgo, um susto e alegria. Não preciso esticar muito a conversa, nem explicar o porquê. Os mais atentos e os amigos irão perceber o motivo. Também serão tomados pela surpresa. Com esse engasgo encerro um ciclo, na 10ª versão dessas acrobacias, nesse descontrole que toma a forma bonita que é o verso. Agradeço, Diego, de coração. Outras acrobacias virão. Com o tempo. O tempo.

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